Entre páginas – Queda de gigantes

“Achou incrível que eles conseguissem ficar tão alegres em meio a uma carnificina daquelas. Que criaturas estranhas eram os homens.”

Sabe quando você já tem um livro há anos na sua coleção, te julgando da estante e esperando aquele momento especial em que você finalmente irá iniciar essa leitura? Esse é o caso de Queda de gigantes, do autor Ken Follett, conhecido por seus romances históricos de fôlego, que mesclam com maestria elementos de ficção com acontecimentos reais.

Apesar de já ter ouvido diversos elogios à essa obra, confesso que as suas mais de 900 páginas me intimidavam um pouco – até porque esse é apenas um de três volumes que compõem trilogia O Século, que percorre todo o (movimentado!!!) século XX. Foi preciso um “empurrãozinho” do Carlos, do canal Livros e e-books, para mudar esse cenário… E ainda bem que topei esse desafio!

5 países, 5 famílias e uma guerra que mudou o rumo da humanidade. Essa é a premissa de Queda de gigantes, que, entre outras ebulições mundiais, nos insere em plena Primeira Guerra Mundial e na Revolução Russa.

“Todos os governos prefeririam afirmar que, embora não desejassem a guerra, tinham sido forçados a entrar nela.”

Em uma pequena cidade do País de Gales – onde pobreza e riqueza convivem em pé de guerra –, somos apresentados aos Williams, uma família de mineradores. Billy, o filho mais novo, é um idealista e decide lutar (literalmente) pelos valores em que acredita. Sua irmã, Ethel, não fica atrás: depois de sofrer um grande revés, parte para Londres para se envolver na luta pelos direitos das mulheres e acompanhar em primeira mão as mudanças da sociedade.

Já na Inglaterra temos a família Fitzberth, representados pelo conde (embuste) Fitz, que representa a aristocracia da época, e a visionária Maud, que deseja usar a sua posição privilegiada para defender os direitos daqueles que mais precisam.

Na Alemanha temos Walter Von Ulrich, um jovem visionário que trabalha nas Relações Exteriores, que deseja estreitar os relacionamentos com os países da região e manter a paz entre as nações. Igualmente visionário e pacifista é Gus Dewar, menino prodígio do Buffalo, nos Estados Unidos, que trabalha na Casa Branca junto ao presidente Woodrow Wilson.

“É assim que as nações geram paz e prosperidade, ou então guerra, devastação e fome. (…) Se você quiser mudar o mundo, então as relações exteriores são o campo onde mais poderá fazer o bem… ou o mal.”

Por fim, temos os irmãos Peshkov, na Rússia. Desde a morte prematura de seus pais, vítimas do regime czarista, Grigori tornou-se uma espécie de pai para o irmão mais novo, Lev. Contudo, enquanto o mais velho é responsável e tenta conquistar uma melhor qualidade de vida por meio do trabalho, Lev é um jovem irresponsável, que vive a vida sem se importar com as consequências de seus atos.

E é a partir desses cinco núcleos que acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos e a formação e um quebra-cabeça de nível global, que terá suas bases estremecidas com a maior guerra que o mundo já vira até então. Entremeadas com personagens históricos reais, essas peças terão papéis fundamentais nesse “jogo” e aproximarão os leitores da História Mundial.

Esse é justamente o brilhantismo de Ken Follett: sua narrativa é tão rica e bem construída, que nos envolvemos com os personagens e com suas causas, nos preocupamos com eles e até mesmo torcemos para que tenham um destino diferente daquele já registrado pelos historiadores.

Apesar de a narrativa ser extremamente agradável, fluida e instigante, avançamos por ela aprendendo, descobrindo novas nuances para fatos que tínhamos como estabelecidos, e desvendando acontecimentos históricos pouco conhecidos. Um exemplo disso é a própria Primeira Guerra Mundial, cujos estopins, pelo menos para mim, sempre foram um pouco dúbios e confusos. Sim sabia que a “gota d’água” tinha sido o assassinado do arquiduque Ferdinando, da Áustria, mas não sabia de todos os entremeios que esse fato acarretou nas outras nações.

“O arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria foi morto em um lugar chamado Sarajevo.”

Além dessa representação riquíssima da História, Follett também nos mostra os diferentes lados do conflito, nos levando a vivenciar o dia a dia dos cidadãos comuns, seja nas fábricas, nas trincheiras, nos polos de poder ou nas casas. Por mais que a maioria do que lemos ali seja ficção, as dores, os medos e as conquistas são reais – representa a realidade das pessoas da época. O próprio autor afirma no fim do livro que a sua maior preocupação sempre foi com a veracidade de sua narrativa e que não colocaria um personagem fazendo algo que historicamente ele não poderia ter feito.

Mergulhar em Queda de gigantes é mergulhar em nossa própria história e conferir em primeira mão como as decisões de pessoas comuns podem mudar o rumo da humanidade. Ao longo da leitura fica difícil não julgarmos o passado com os olhos do futuro, mas acredito que a obra nos faz pensar muito sobre como agiríamos se estivesse naquela posição, naquele momento, naquele período histórico, e o resultado disso é espetacular!

“Ninguém quer uma guerra. Mas às vezes ela é melhor do que a alternativa.”

Mal posso esperar para seguir com a leitura do segundo volume, O inverno do mundo!

 

Ficha Técnica:

Título: Queda de gigantes

Autor: Ken Follett

Editora: Arqueiro

Páginas: 910

País: País de Gales

Avaliação: 5/5 estrelas

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