Leggendo gli italiani – Um general na biblioteca

“A maldição da nossa geração foi esta: não poder fazer o que pensava. Ou não poder pensar o que fazia.”

É estranho pensar que, até pouco tempo atrás, eu não era muito fã de contos…

Com o passar do tempo, tenho desenvolvido uma relação de amor com essas narrativas breves e (quase) sempre tenho um livro de contos na minha cabeceira, com o intuito de ler uma ou duas histórias por dia e/ou semana (dependendo das outras leituras em andamento).

Além dos excelentes O cavaleiro inexistente e O visconde partido ao meio, que são pequenos (e encantadores) romances, tive meu primeiro contato com os contos de Italo Calvino este ano, por meio do espirituoso Os amores difíceis – que só reforçou o meu amor pela narrativa fantástica do autor italiano.

Não demorou muito para que eu me aventurasse novamente por suas páginas, desta vez em Um general na biblioteca. E aqui cabe um adendo: a primeira vez que soube desta obra específica foi em uma peça de teatro que encenava alguns de seus contos e suas cenas ficaram bem marcadas em minha memória. Finalmente, depois de anos, fui ler o original que inspirou a apresentação.

No texto de apresentação da obra, assinado por Esther Calvino, descobrimos que esta é uma obra publicada postumamente, em 1993 (o autor faleceu em 1985), e reúne algumas narrativas inéditas e outras publicadas previamente em coletâneas, jornais e revistas. Escritos entre 1943 (quando o autor ainda era bem jovem) e 1984, os textos abarcam uma grande variedade de temas – alguns deles, inclusive, tinham sido concebidos previamente como romances, mas acabaram se tornando contos.

A obra está dividida em duas partes, organizadas de forma cronológica: Apólogos e contos (1943 – 1958) e Contos e diálogos (1968 – 1984) e aqui eu acho que vale explicar um pouquinho o que exatamente é um apólogo para queles que, como eu, não conheciam esse termo.

Apólogos são narrativas em prosa ou verso, geralmente dialogada, que encerra uma lição moral, e em que figuram seres inanimados, imaginariamente dotados de palavras.

Nas palavras do próprio autor, “O apólogo nasce em tempos de opressão. Quando o homem não pode dar forma clara a seu pensamento, exprime-o por meio de fábulas. Esses continhos correspondem a uma série de experiências políticas e sociais de um jovem durante a agonia do fascismo.”

“A maldição da nossa geração foi esta: não poder fazer o que pensava. Ou não poder pensar o que fazia.”

Tendo situado a obra em seu espaço e tempo, vamos aos textos. São 32 narrativas que reúnem a genialidade e o “realismo fantástico” de Calvino de forma inteligente e sagaz, e que variam do real ao absurdo, do sensível ao grotesco – sempre com um fundinho de humor e ironia.

O conto que dá nome ao livro traz a emblemática história de uma comunidade que está sob uma forte ditadura. O general em questão chega à conclusão de que os livros são um elemento de subversão e ordena que seus subalternos façam uma triagem da biblioteca local e destruam os livros considerados inadequados pelos militares. Porém, ele n20ão contava com o poder transformador da literatura…

Como geralmente ocorre em coletâneas de contos, geralmente gostamos mais de uns e um pouco menos de outros – e isso é sempre muito objetivo. Tem muito a ver com o repertório e com a visão de mundo do próprio leitor.

Alguns contos dos quais gostei bastante foram A ovelha negra, que narra a história de um país onde todos eram ladrões – e o que acontece quando um único homem decide não roubar (qualquer semelhança com um país muito conhecido é mera coincidência…); Olhos inimigos, que parte de um homem que se sente perseguido para falar sobre os dilemas da guerra; o belíssimo A tribo com os olhos para o céu, que mostra como a guerra e a violência transformam a natureza (das pessoas); A memória do mundo, que discorre sobre humanidade, memória, verdades e mentiras; O incêndio da casa abominável, que nos insere de forma impressionante na mente de um corretor de seguros que tenta construir um quebra-cabeças macabro; e Antes que você diga alô (que curiosamente é o título original em italiano desta coletânea), que trata da distância, dos sentimentos e dos “ruídos de comunicação” entre duas pessoas.

“As noites são belas e o céu de verão é cruzado pelos mísseis”.

“Assim, com sentimentos dúbios, escrutamos o céu cada vez mais armado e mortal, como outrora líamos o destino no curso sereno dos astros e cometas errantes.”

Saio desta leitura ainda mais apaixonada pela genialidade de Calvino e com vontade de ler ainda mais obras deste autor incomparável.

“E havia em mim tristeza e solidão, naquela noite na margem das negras sombras dos rios, tristeza e solidão dos novos amores, tristeza e saudade dos velhos amores, tristeza e desespero dos amores futuros. Don Juan, triste herói, velha danação, tristeza e solidão e mais nada.”

 

Ficha Técnica:

Título: Um general na biblioteca

Autor: Italo Calvino

Editora: Companhia de Bolso

Páginas: 240

País: Itália

Avaliação: 3.5/5 estrelas

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