“O que se passa, afinal, no mundo dos adultos, na cabeça de pessoas extremamente racionais, em seus corpos carregados de saber? O que os reduzia a animais dentre os menos confiáveis, piores do que os répteis?”

Como já comentei neste post, durante a quarentena eu caí de amores pela Itália – pela língua, pela cultura, pelas séries… e pelos livros. A partir daí iniciei uma empreitada meio obsessiva (quem nunca?) para desbravar novos autores e revisitar velhos conhecidos que têm uma coisa em comum: sua origem italiana.

Em cima disso, acabei criando (mais um – sim, não há limites) desafio de leitura pessoal, que batizei carinhosamente de Leggendo gli italiani (ou Lendo os italianos, em bom português). E, é claro, para inaugurar essa empreitada, nada melhor do que uma das autoras italianas mais comentadas na atualidade: Elena Ferrante.

Eu nunca fui de ler diversos livros do mesmo autor no mesmo ano, mas as coisas mudaram durante a quarentena (aliás, o que não mudou?). Pois bem… Pode ser que eu tenha sido contaminada pela “Ferrante fever”!

O meu primeiro contato com a autora foi com Dias de abandono. Foi uma leitura intensa, que me consumiu e me marcou, mas não fez com que eu me apaixonasse completamente por Ferrante.

Contudo, eis que a autora lançou um novo livro em plena pandemia, para a alegra geral da nação dos leitores. Comecei a assistir algumas resenhas sobre a obra e desconfiei que esta seria uma ótima pedida para mim. E estava certíssima!

“(…) as coisas feias que você não conta para ninguém se tornam cães que comem sua cabeça à noite enquanto você dorme.”

O primeiro ponto que me atraiu no livro foi a ambientação: Nápoles. Uma cidade tão plural, tão dicotômica, que oscila entre a beleza e o caos. Viciada que estou no país dos meus antepassados, não conseguiria resistir a um bom cenário sulista italiano!

A segunda coisa que me chamou a atenção foi o próprio enredo. O livro é um romance de formação que apresenta o duro crescimento de Giovanna, o fim da adolescência, a descoberta da vida adulta, as desilusões e incertezas reveladas sobre tudo aquilo que antigamente lhe trazia segurança.

Ao ser comparada com a tia Vittoria, a irmã de seu pai que é uma espécie de entidade que representa tudo aquilo de ruim do qual seus pais sempre tentaram fugir, a menina resolve ir atrás da parente e reconstruir a história de sua família. Porém, ao conhecer mais sobre a sua origem, ela desvenda também o lado “feio” da vida adulta, o que a acaba modificando completamente.

“Eu não conseguia mais ser inocente, por trás dos pensamentos havia outros pensamentos, a infância tinha terminado.”

Fiquei totalmente fisgada e conquistada pela narrativa de Ferrante, que me revelou uma nova faceta, ainda mais sensível, da que tinha conhecido em Dias de abandono. Gostei tanto da leitura que já quero sair lendo tudo que a autora escreveu!

Ficha Técnica:

Título: A vida mentirosa dos adultos

Autora: Elena Ferrante

Editora: Intrínseca

Páginas: 432

País: Itália

Avaliação: 4.5/5 estrelas