Blá Blá Blá – Por que ler (ou não) os clássicos

O que são “os clássicos”?

Aqueles volumes grossos, velhos e empoeirados que vivem adormecidos nas estantes? Aquele texto lento, cheio de palavras complicadas e linguajar arcaico? A pavorosa leitura obrigatória da escola?

Parece que se referir a um clássico é como falar um palavrão – como assim você adora ler esses livros antigos? – ou então, passar a impressão de uma “falsa” intelectualidade. Ora, quem leria uma coisa dessas senão para se gabar depois?

A bem da verdade é que os clássicos geralmente vêm acompanhados com uma certa aura de preconceito sob o ponto de vista dos leitores mais jovens (entre os quais eu me incluo). E é para tirar um pouco essa “má impressão” que resolvi escrever este post.

Afinal, o que são os clássicos?

Não existe uma definição gravada em pedra que classifique o que seria de fato um clássico da literatura. Mas, para tentar chegar a uma conclusão mesmo que superficial, resolvi consultar o livro Por que ler os clássicos, do Italo Calvino.

Com um texto agradável e divertido, o autor italiano apresenta algumas definições que podem nos ajudar a desvendar esse mistério… Em poucas palavras, alguns fatos sobre os clássicos:

– Os clássicos são aqueles livros dos quais geralmente “ouvimos dizer”;
– Constituem uma riqueza para aqueles que o tenham lido e amado;
– Ficam guardados na memória dos leitores por tempos indeterminados;
– Toda releitura de um clássico guarda novas descobertas;
– Toda nova leitura de um clássico é, na verdade, uma releitura;
– “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”;
– Apresenta em si as marcas das leituras anteriores;
– Carrega uma série de discursos críticos;
– São livros que por mais que pensemos conhecê-los (de tanto “ouvir dizer”), quando são de fato lidos se revelam como algo novo;
– Carregam discursos universais e atemporais;
– O “seu clássico” é aquele ao qual você não é indiferente;

Por que ler os clássicos?

São vários os motivos que nos levam a encarar, por fim, a leitura de um desses “pesos pesados” da literatura.

Pode ser por uma curiosidade geral por, em fim, desbravar “páginas clássicas”; curiosidade por uma obra em específico; querer descobrir as referências feitas a um deles em um livro que você gosta muito (por exemplo, a menção a Our Mutual Friend, do Charles Dickens, que marca as páginas de A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista, da Jennifer E. Smith); o desejo de saber mais sobre um certo autor; a indicação de um amigo… (insira aqui milhares de razões).

No meu caso, o contato com os clássicos veio dos livros que cobriam as estantes da casa do meu avô. Ainda me lembro do dia em que ele, enfim, me presenteou com sua cópia surrada de Oliver Twist.

Também retornei com força a eles durante a faculdade. Ao entrar pela primeira vez na biblioteca, prometi a mim mesma que devoraria todos os livros da seção de Jornalismo. Após os quatro anos de curso, li muito pouco daquele corredor específico, mas havia devorado vários volumes da seção de Literatura Inglesa. Vai entender…

Por que não ler os clássicos?

Por obrigação.

Seja essa obrigação advinda de algum professor ou de si mesmo (preciso ler os clássicos! Que péssimo leitor sou!).

Claro, se você realmente necessita dessa leitura para suas aulas/curso há pouco o que se possa fazer, mas o risco de que você pegue uma “birra” pelos livros é muito grande – principalmente se for uma obra que não te atrai nem um pouco.

Não se culpe se você ainda não conseguiu chegar ao fim de um desses livros, e nem coloque todos eles no mesmo “balaio”. Tente encontrar um cujo enredo seja mais compatível com o seu gênero de leitura favorito.

“Clássicos” não é um gênero

Existe o hábito muito comum de classificar um clássico apenas como “clássico”.

Mas, dentro dessa “categoria”, se podemos chamar assim, existem os mais diferentes gêneros: romance, suspense, aventura, terror e até mesmo ficção científica!

Portanto, se você deseja se aventurar nessas “águas desconhecidas”, procure começar por um que seja mais próximo daquilo que você já gosta de ler.

Ah, as traduções!

Quem já é apreciador desse tipo de literatura sofre por causa das traduções. Sério, aqui “o babado é forte”.

São muitos os clássicos que não possuem tradução recente (ou nunca foram traduzidos) para o português. Não sei, mas parece que após o “boom” de adaptações dos anos 70 (providas pelo Círculo do Livro #sdds e pela Coleção Abril), ficamos órfãos dos livros mais famosos da literatura.

E se você é “xiita” com os textos originais como eu, é ainda pior! Muitas dessas traduções antigas que encontramos em sebos foram realizadas a partir de textos do francês e/ou sofreram uma grande dose de “adaptation” por parte de seus tradutores. Como confiar?

Alguém se propõe a criar um evento “fake” no Facebook em prol da “Marcha em defesa de novas traduções dos clássicos”? Eu confirmo presença!

Mas então… Por onde começar?

Depende. Do que você gosta?

Se a sua paixão são os romances, livro não falta! Aposte na obra de Jane Austen, das irmãs Brontë ou em Norte e Sul, da Elizabeth Gaskell, que não tem erro!

Agora, se o seu negócio é aventura, temos Julio Verne e Louis Stevenson (além de outros grandes nomes).

Ficção científica? H.G. Wells pode ser uma boa pedida…

Está em busca de um bom suspense? Arthur Conan Doyle e Wilkie Collins podem te ajudar… E não nos esqueçamos de Bleak House, do Dickens, que te fisga com um grande mistério!

Alguém falou em terror? Edgard Allan Poe e H. P. Lovecraft não podem faltar!

E isso não passa da pontinha do iceberg quando se trata dos clássicos!

Como diria Italo Calvino… “A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos”.

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