Entre Páginas – Tess of the D’Urbervilles

Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*

Este post faz parte do arquivo do blog.

Em 2018 nós perdemos todos os posts antigos e, aos poucos, estamos subindo o conteúdo antigo para que todos tenham acesso.

 

Então nós lemos Tess of the D’Ubervilles… E adoramos!!

Tudo começou com uma proposição nossa (Sabrina e Fanny) de ler mais clássicos em 2015. Fãs do gênero, andávamos relegando nossas leituras, intimidadas pelos “tijolões“. Mas eis que então surgiu a oportunidade perfeita: o lançamento do filme de Cinquenta tons de cinza!

Ahn? O que uma coisa tem a ver com a outra? Explicamos. No livro de E. L. James, Christian presenteia Anastasia com a primeira edição da obra de Thomas Hardy, que também é bastante citada em mensagens criptografadas de um personagem para o outro.

Para nos estimular ainda mais, uma das primeiras imagens promocionais do filme a serem divulgadas foi um close do livro na mão da Ana. Oras, por que não aproveitar o ensejo e unir o “útil ao agradável”, ou seja, matar a curiosidade e, ao mesmo tempo, colocar em prática o nosso desafio literário?

Começamos timidamente, com 20 páginas por dia (para batermos nossa meta de terminarmos antes do lançamento do filme). Porém, quando menos esperamos já estávamos fissuradas pela história de Tess e loucas para saber o final!

Fanny

Eu tinha uma ideia errada. Na minha cabeça, ler Tess of the D’Ubervilles seria um dos maiores desafios do ano. Lê-lo ainda para a estreia de 50 tons faltando menos de dois meses? Piorou.

Não bastasse o fato de ter passado pelo o ano de 2014 com a pior ressaca literária da vida, eu ainda não estava realmente animada para ler esse livro, mas era um clássico e ele estava na lista fazia um tempinho, portanto segui em frente… Só para ser surpreendida já nas 100 primeiras páginas e encontrar um livro denso, encantador e mais um romance para a minha lista de recomendações.

Durante a leitura, em muitos momentos tinha que me lembrar de que estava lendo um livro não só passado no século 19, mas que também foi escrito naquela época, exatamente por ser tão pontual e questionador em tópicos como a fé e o universo. Tess me fez sofrer e chorar com a incerteza e baques que a vida lhe dá. Mas mais do que tentar transformar em um dramalhão, Hardy marca a Tess com uma marca invisível e a tristeza tende a segui-la, a impedindo de ser feliz.

Em certo momento, você quer salvá-la desse sofrimento e começa a desgostar das pessoas causadoras desse sofrimento momentâneo. O livro não chega a ser tão romântico como Orgulho e Preconceito, assim como não é tão politizado como Norte e SulTess vem para preencher essa lacuna.

Antes olhava na estante e tinha medo do que ia encontrar e hoje recomendo para todos: esse é um livro que merece ser lido!

Sabrina

Era uma tarde agradável de dezembro. A nossa equipe estava sentada em um café (claro!), fazendo uma reunião improvisada sobre os nossos desafios e metas para 2015. Ao debater nossa proposta de ler mais clássicos neste ano, Fanny olha para mim e exclama: “Vamos ler Tess antes do lançamento de Cinquenta tons de cinza!”. Depois de quase cair da cadeira e tentar dissuadi-la dessa ideia insana, acabei topando. Mas a leitura se daria a conta gotas a partir do primeiro dia do ano.

E no dia 1º lá estava eu, tentando desvendar o inglês arcaico de Hardy nas primeiras páginas de Tess of the D’Ubervilles. Confesso que acabei pedindo ajuda aos universitários, quer dizer, ao Kobo com seu lindo dicionário “inglês dos tempos das cavernas – inglês de hoje” (o livro está em domínio público #FicaDica). Mas posso confessar uma coisa? É só a história começar a te envolver que não há língua, nem expressão idiomática do interior da Inglaterra de 1891 que te impeça de saber qual é o destino da pobre Tess.

No começo, a mocinha é quase um exagero de tão ingênua. Ela não sabe nada da vida e tem uma visão pura e otimista de tudo e todos. Porém, conforme a história avança, ela começa a descobrir que o mundo também é um lugar de muita malícia, tentações, injustiças e remorsos.

Aqui vale destacar a beleza da prosa de Hardy, que consegue te envolver completamente na história. Mesmo com uma narrativa em terceira pessoa, conseguimos mergulhar na mente – e no coração – de Tess e é como se estivéssemos vivendo os acontecimentos com ela. Porém, ao mesmo tempo em que o autor detalha os sentimentos de seus personagens, em alguns pontos ele se torna um tanto vago (até demais) em relação a alguns fatos. Não vou entrar em detalhes, claro, mas senti isso principalmente em uma certa cena importantíssima, na qual precisei recorrer a todas as notas de rodapé (e à Fanny) para descobrir exatamente o que tinha acontecido.

Claro, aí entra uma questão estilística do autor e algumas morais da época, mas como a Fanny destacou, o livro por vezes toca em questões que continuam extremamente relevantes nos dias de hoje. Parece até que Hardy deu um pulinho no futuro e voltou para constatar que muitos aspectos da natureza humana permanecem firmes e fortes.

No fim, a narrativa me deixou tão curiosa e “desesperada”, que acabei furando totalmente o esquema das “20 páginas” (abandonado pela Fanny assim que a “coisa começou a pegar) e devorei a parte final do livro. Já estou ansiosa para conferir outras obras do Hardy!

Tess of the D’Ubervilles x Cinquenta tons de cinza

Depois de ter contato com as duas obras, fica fácil entender a alusão constante que a E. L. James faz em seu livro à história de Thomas Hardy.

Assim como Tess, no início de Cinquenta Tons, Ana é bastante ingênua (e sem sal, vamos combinar) e se vê atraída por um homem sedutor e de caráter forte, com uma melhor classe social do que a sua. Porém, através deste relacionamento, a personagem vai ampliando a sua visão de mundo e deixa a inocência para trás.

No final dos livros, ambas as personagens já possuem uma bagagem maior (e passaram por grandes sofrimentos), o que as leva a definir a sua personalidade e impor a sua vontade, sem mais se sentirem inibidas e intimidadas.

Obs: Aqui no Brasil o livro foi publicado pela editora Pedrazul.

Ficha Técnica:

Título: Tess of the D’Ubervilles

Autor: Thomas Hardy

Editora: Penguin

Páginas: 516

Avaliação: 5/5 estrelas

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