Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*
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Por Fanny Ladeira e Sabrina Inserra
Que o King é um dos (senão “o”) maiores autores de terror da atualidade não é nenhuma surpresa… Mas ficamos bastante receosas por nos aventurar pelas páginas de Carrie, a estranha justamente por este ser o seu primeiro livro – afinal, bem sabemos que a primeira obra de um autor não costuma ser tão completa quanto as demais. Porém, tivemos uma grata surpresa ao encontrar, neste livro, as características que viriam a consagrar o escritor posteriormente.
Sim, Carrie tem as suas falhas, mas ainda assim é um livro instigante e, em alguns momentos, aterrorizante.
Um fato curioso a respeito desta obra (e que conferimos no livro Stephen King – a Biografia: Coração Assombrado, de Lisa Rogak) é que ela foi escrita em uma época em que King e sua esposa Tabitha passavam por muitas dificuldades, uma vez em que o autor ainda não havia conseguido publicar nada além de contos em revistas e almanaques – e que não eram o suficiente para pagar as contas. Ao encerrar a escrita de Carrie, King acabou guardando-o em uma gaveta e resolveu não apresentá-lo a nenhuma editora – afinal, estava bastante inseguro pelo fato de todo o romance se passar em torno de uma garota adolescente, algo bem diferente de sua realidade. Porém, Tabitha acabou resgatando o manuscrito e insistiu que o marido arriscasse a sua publicação. Este acabou sendo o primeiro livro vendido por King e a porta de entrada para uma carreira sólida e bem sucedida.
A primeiro coisa que nos chamou a atenção ao iniciar a leitura foi a sua forma de narrativa. Ao contrário da maioria dos livros, a escrita de Carrie se alterna entre a narrativa linear, que conta a história da personagem, e recortes de jornais e trechos de livros publicados no futuro, que descrevem fatos e teorias em torno da garota – que foi o pivô de uma grande tragédia.
Ao focar em Carrie, King explora o relacionamento conturbado da menina com a mãe, uma religiosa fanática e extremista, e as suas consequências – como, por exemplo, o fato de ela passar pela puberdade sem nenhum conhecimento ou contexto por parte de sua progenitora. Tudo isso acarretaria em momentos de vergonha sofridos pela menina e até mesmo em episódios de bullying por parte de seus colegas.
Se tudo isso já não fosse dramático o suficiente, King ainda soma elementos sobrenaturais à narrativa – e que, na obra, se explicam através de teorias que ligam a feminilidade e a puberdade de Carrie com a deflagração de seus poderes psíquicos.
Mesmo que na época o autor pudesse não ter a intenção de publicar este livro, ele já mostra claramente o início da grande teia tecida por ele e a construção de todo o seu universo.
Uma vez que não tínhamos grandes expectativas, o resultado desta leitura foi uma surpresa para nós. Além da escrita fluida e viciante do autor, nos deparamos com uma obra bastante atual, ao tocar em temas como autodescobrimento, preconceito e radicalismos. Claro, King vai para um extremo, mas não foge (muito) da realidade.
Ficha Técnica:
Título: Carrie, a estranha
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Páginas: 200
País: Estados Unidos
Avaliação: 4/5 estrelas