O Tempo

 

Esse post possui Spoiler sobre os filmes Tenet, Interestelar e A Chegada e sobre a série Dark.

“Ele imaginou as três dimensões do espaço e a dimensão do tempo juntas, como uma espécie de tecido que nos rodeia e que é deformado pela presença dos corpos celestes massivos, como os planetas e estrelas.”

O trecho acima é parte da explicação sobre teoria da relatividade, desenvolvida ao longo de anos por diversos cientistas e publicado sobre as considerações de Albert Einstein, sobre o espaço-tempo.

Criado quase ao tempo que publicação das teorias de Einstein o cinema sempre foi encantando com o conceito de como a humanidade (e outros mundos) enxergam e consideram o conceito do tempo.

A maioria de nós passa parte da vida fazendo as nossas atividades, lendo, vendo séries e filmes e aproveitando literalmente o tempo que nos foi dado, parar e pensar nesse conceito de que toda a existência humana foi dívida em décadas, séculos, minutos e segundos de uma forma padronizada. Cada minuto tem 60 segundos. Mas será que TODOS os minutos trazem a sensação de 60 segundos?

Quem já ficou parado em posição de prancha durante um exercício físico, sabe que essa noção do tempo pode ser, como Einstein muito bem apontou, relativa.

Ficar duvidando e analisando conceitos nos apresentados como verdadeiros podem fazer o nosso cérebro entrar em contradição, transe e começar a questionar todo o restante, mas algumas obras da literatura e do cinema foram atrás.

Espaço-Tempo

Cada vez que qualquer encarnação do Doctor Who abre a porta da sua nave Tardis (que em inglês significa Time And Relative Dimension In Space), o expectador espera um cenário incrível, maravilhoso e que os leve para mundos e tempos distintos a cada novo episódio.

Mesmo tendo uma queda por escolher companheiros de viagem da Londres moderna, as aventuras do Senhor do Tempo duram há mais de 5 décadas encantado gerações ao brincar exatamente com o conceito de que é possível viajar não só pelo tempo, mas também pelo espaço.

Em um dos episódios mais icônicos, The Rings of Arkhaten (Temporada 7, Episódio 8), o Doutor ao lado da sua companheira do momento, Clara Osward vão até Arkhatan e tem que lutar contra uma força que se sacia com as histórias, músicas e memórias.

O Doutor faz um lindo discurso (Sério, vejam essa cena!) sobre como ele sendo um ser com tantas memorias é irresistível, mas no final é Clara que parcialmente salva ao dia ao oferecer para um monstra uma folha antiga que representava o encontro dos seus país. Ela fala: “Aqui estão os dias da minha mãe, os que ela teve e todos que ela poderia ter.”

A série inglesa trabalha muito com esse conceito do que poderia ter acontecido, de como algumas coisas são fixas e outras nem tanto. De como o tempo é aquele o que você está vivendo. O passado só é passado, enquanto você não está nele e o futuro segue a mesma tratativa.

Outros filmes exploram também essa temática de viagem no tempo, alguns com limitação do lugar que a pessoa irá chegar e outros mais abertos em quase todos os gêneros.

Em Algum Lugar do Passado é um romance que explora essa volta no tempo sem uma máquina, assim como Questão de Tempo e A Mulher do Viajante do Tempo, enquanto em Os Vingadores EndGame os heróis fazem uma volta no tempo, sem limitação de espaço, com uma super máquina para tentarem salvar a humanidade e em Dark temos os túneis da caverna que é bem explicado no final a sua utilidade, assim como porque a limitação é de 33 anos para frente e para trás.

Sendo que outros filmes falam sobre o tempo exatamente da forma como o vivemos, Como era antes de você, Lou tenta fazer com que Will mude de ideia ao mostrar ao longo de alguns meses que ele pode ser feliz.

Linha Linear? Nah!

 

Enquanto a viagem pelo tempo é ‘forçada’ por um elemento de viagem, fica mais tranquilo e fácil de assimilar bem a experiência (vide a boa aceitação de De Volta Para o Futuro), mas há um outro conceito de que o tempo não está acontecendo da mesma forma para todos e que cada narrador conta do seu jeito.

Um dos cineastas que mais exploram isso é Christopher Nolan, poderoso diretor, roteirista e produtor que ficou conhecido com a sua trilogia sobre Batman e A Origem.

Se em A Origem o tempo é só mais um dos elementos dentro do emaranhado dos sonhos proposto, ele exploraria com mais cuidado e uma boa dose de distopia e teorias da física em seus próximos filmes .

Dunkirk, que apesar de se passar durante a Segunda Guerra Mundial, brinca com o tempo ao mostrar os eventos através de timelines diferentes deixando o telespectador grudado e apreensivo na poltrona até o fim.

Já Tenet teve o fardo de ser o salvado do cinema e estreou no meio da pandemia, com parte dos cinemas fechados e muitas pessoas se precavendo da exposição. Seguindo todos os protocolos e mais segura do que uma viagem ao supermercado, fui ver esse filme no cinema e valeu cada momento da experiência.

Ali, o tempo pode ser executado de duas formas indo para frente e para trás, com a cada momento podendo gerar consequências para os eventos que já vimos anteriormente. Conhecendo Nolan, mesmo quando parecia que não estava acontecendo nada, sabia que estava e não fiquei supressa com o final e até me sentir inteligente ao entender .

Esse entendimento foi em partes, porque vi antes Dark, série alemã original da Netflix, que bebeu da mesma fonte de Tenet ao usar o paradoxo de bootstrap.

Lançado em 2014, Interestelar é o típico filme que não fez muito sucesso no seu lançamento, mas ao longo dos anos recebeu o conceito de cult e grande obra prima. Apesar de algumas críticas negativas que classificam o filme como confuso e desnecessário em partes (a personagem da Anne Hathaway foi extremamente criticada pelo seu discurso sobre a força do amor), ao montar a trama em cima de um grupo de astronautas que são enviados através de um buraco de minhoca em busca de novos mundos para uma humanidade condenada a morrer sufocada na Terra, o expectador é levado a questionar e analisar os conceitos de tempo e relatividade.

Todos os eventos do filme, do começo ao fim estão interligados com a ajuda não explicada de seres mais evoluídos que quiseram ajudar a humanidade. Dra. Brand, personagem de Anne Hathaway, fala em um momento: “Talvez para eles o tempo é como uma 5º dimensão, algo que poderia ser descrito como subir uma montanha para estar no futuro.”

Distante da Terra, o tempo para eles também passa diferente, sendo que em um dos planetas que eles descem a jornada de uma hora, virou mais de 20 anos.

Usando também a temática de forças de fora que tiveram de ajudar a humanidade, A Chegada é outra obra prima que merece mais reconhecimento.

Com Amy Adams e dirigido por Denis Vileneuve (que se tornou um dos meus cineastas favoritos nos últimos anos), a história começa pregando uma peça no telespectador, mas que é essencial para todo o conceito do filme e como estamos sendo apresentado a visão do tempo naquele cenário.

Uma linguística famosa, Louise Banks, é convidada para integrar a equipe que está tentando comunicação quando naves misteriosas invadem todo o mundo. Com a sua expertise, ela consegue uma forma de contato e vai apreendendo a linguagem dos visitantes o que modificará toda a sua vida e visão sobre como o tempo.

Bem no começo de A Chegada, Louise fala uma frase que me tocou muito: “Há dias que definem a sua história além da sua vida.”

Uma realidade que só conseguimos entender muitos anos depois, quando a vida vem mostrar a importância daquele momento na nossa trajetória. Será que apreciaríamos mais ou menos sabendo qual seria o final?

Será que isso mudaria as nossas escolhas?

Where? When?

Apesar de terem muitos elementos sci-fi, Interestelar,  A Chegada, Dark, Tenet e Doctor Who são similares ao explorar a natureza humana ao invés de falar sobre teorias malucas como a vida deveria ser. São exatamente os pontos que entendemos como certos: amizade, maternidade e paternidade, compaixão e o amor que ganham peso em cada uma das jornadas dos personagens que os levam exatamente nos lugares que eles precisam estar.

O conceito tempo é realmente bem relativo, porque rever Interestelar é aproveitar novamente todos os minutos investidos, descobrir tesouros escondidos e pistas deixadas para trás na primeira vez que viu Dark.

Queremos ver filmes que nos desafiem a pensar e questionar sobre pontos considerados ‘fixos’, mas eles só serão realmente timeless, se abordarem sobre o ponto de vista das nossas emoções. Afinal, queremos aproveitar bem o tempo que nos é dado.

 

Onde assistir: 

Dark – Exclusivo Netflix

Interestelar  – Globo Play e Now

A Chegada – Globo Play, Netflix e Now

Doctor Who – Globo Play

Tenet –  Somente para locação/compra

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