Entre páginas – Ninguém escreve ao coronel

“Quem espera o muito, espera o pouco.”

Um dos autores queridinhos que 2020 me trouxe foi Gabriel García Márquez. Já fazia um tempo que “namorava” seus livros, mas só no ano passado realmente comecei a me aventurar por eles… E que delícia está sendo essa experiência!

Depois de me encantar por A revoada, decidi aprofundar ainda mais minha relação com a obra do autor e me inscrevi em um curso que aconteceu no finalzinho do ano passado sobre a violência presente na obra de Márquez (ministrados pelos queridos @leituras.perifericas e @lendoarte). Nesse período, devorei quatro livros do autor na sequência, sendo o primeiro dessa maratona o incrível Ninguém escreve ao coronel.

Logo de cara já temos uma indicação da relação entre a obra e o tema do curso: o livro se passa após uma guerra civil, em um contexto de repressão e censura. As notícias reais correm por baixo dos panos e os rebeldes são abatidos a tiros em plena luz do dia.

“Para os europeus, a América do Sul é um homem de bigodes com um violão e um revólver.”

Em meio a esse cenário, acompanhamos a vida do coronel e sua esposa. Ambos vivem na miséria, tendo que vender até mesmo os móveis de sua casa para conseguir comida. Eles só têm duas esperanças que lhes dão forças para continuar vivendo: um galo de rinha, que pertencia ao filho – e que pode trazer muito dinheiro quando (e se) ganhar uma disputa –, e a expectativa da chegada de uma carta anunciando a aposentadoria do coronel.

Expectativa e espera são as palavras que melhor descrevem esse livro. E toda a sua ambientação é criada para gerar esse sentimento no leitor, desde a sensação de tempo parado, arrastado, até a solidão daquele casal que parece existir isolado em sua miséria.

“— Ilusão não se come.
— Não se come, mas alimenta.”

Nesta obra, a narrativa de Gabo está afiadíssima: apesar de se valer de uma escrita direta, objetiva e sem grandes floreios, o autor consegue, com sua genialidade, transmitir uma enorme sensibilidade e despertar os sentimentos do leitor.

Apesar de ser um livro curto, senti que ele é na medida exata: nada sobra e tudo está ali com um propósito muito bem definido. Saí da leitura desse “pequeno notável” profundamente impressionada e apaixonada pela narrativa do autor!

Ficha Técnica:

Título: Ninguém escreve ao coronel

Autor: Gabriel García Márquez

Editora: Record

Páginas: 95

País: Colômbia

Avaliação: 5/5 estrelas

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